A pintura apresenta um esquema pictórico inusitado, aproximando-se dos ideais estéticos surrealistas.
O artista utilizou uma gama cromática escura, na qual predominam marrom e vermelho. Com a utilização de um grande plano cromático, a figuração não é tão evidente, sugerindo um caráter quase abstrato.
Chama a atenção, porém, o que aparenta ser um altar ritualístico no centro da composição, onde é possível determinar dois rostos. No entanto, a planaridade da cena indica que trata-se de máscaras de rituais. No quadrante inferior-centro, feições humanas são demarcadas apenas por contornos, acompanhadas, à direita, de uma numeração de 1 a 10 em sentido vertical.
Acima, no quadrante superior-centro, nota-se um rosto contido em uma forma geométrica, sugerindo tratar-se de uma máscara.
À esquerda da tela, em sentido vertical, representações de uma mão e uma chave, entre outras, aparecem como símbolos ritualísticos.
Ademais, a composição é mais marcada pela geometrização de formas do que pela figuração.
SIRON FRANCO
Gessiron Alves Franco nasceu em Goiás Velho (GO), em 26 de julho. Muda-se para Goiânia em 1950. Em 1960 estuda pintura com D. J. Oliveira e Cleber Gouvêa, ano em que também é aluno-ouvinte da Escola de Belas Artes da Universidade Católica de Goiânia. Entre 1969 e 1971, freqüenta os ateliês de Bernardo Cid e Walter Levy, em São Paulo, integrando o grupo que faz a exposição Surrealismo e Arte Fantástica, na Galeria Seta. Em 1975, com o prêmio viagem ao exterior, reside entre capitais européias e o Brasil. Em 1979, inicia o Projeto Ver-A-Cidade, realizando diversas interferências no espaço urbano de Goiânia. Entre 1985 e 1987, faz direção de arte para documentários de televisão, como Xingu, concebido por Washington Novaes e premiado com medalha de ouro no Festival Internacional de Televisão de Seul.
Siron Franco é um artista muito ligado às questões sociais: quando do acidente com o césio 37, elemento radioativo que causaria grandes danos de saúde a pessoas pobres de Goiânia, o artista pintou série intitulada “Césio”, atuando contra o descaso das autoridades diante do desamparo dos cidadãos. Os povos indígenas também foram tema de um memorial feito por Siron Franco, em respeito e homenagem ao contínuo massacre dessas populações. A devastação da natureza também seria um de seus motivos, denunciando a caça e a matança de animais.
Esses temas seriam desenvolvidos em esquemas inusitados, por vezes instalações, de uma criatividade peculiar ao artista ligado às questões do seu tempo. Por outro lado, o artista possui um domínio técnico que o possibilita o desenvolvimento da própria linguagem artística, ao par de todas as questões sociais e temáticas.
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